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terça-feira, 17 de outubro de 2017

[TRADUÇÃO] BTS LOVE YOURSELF - 화양연화 (HYYH) THE NOTES

Unknown


화양연화
THE NOTES


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TAEHYUNG
29 de Dezembro, Ano 10
(Versões L, O e E)
Tirei meus sapatos e adentrei o quarto. Meu pai estava realmente lá. Eu não tinha pensado quanto tempo fazia, ou de onde ele havia acabado de voltar. Eu simplesmente esbarrei em seu abraço. Não me lembro do que aconteceu em seguida. Senti primeiro o cheiro do álcool, os palavrões ou o tapa? Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Havia o cheiro de álcool e a respiração irregular e fétida. Seus olhos estavam vermelhos, a barba por fazer. Ele acertou um tapa em minha bochecha com sua mão enorme. Ele me bateu na bochecha e perguntou o que eu estava olhando. E então ele me levantou, suspendendo-me no ar. Seus olhos eram aterrorizantes, mas eu estava assustado demais para chorar. Não era meu pai. Não, não era ele. Mas não era verdade. Meus pés estavam balançando no ar. No momento seguinte, minha cabeça atingiu a parede, o corpo caindo no chão. Parecia que minha cabeça iria explodir. Minha visão ia e voltava, e logo escureceu. A única coisa de que me lembro era o som de meu pai ofegando.

SEOKJIN
2 de Março, Ano 19
(Versões L, O e V)
Havia um cheiro de umidade na sala do diretor, para onde meu pai me levou. Dez dias depois de voltar dos Estados Unidos, eu fui avisado ontem de que, devido à diferença do sistema escolar, terei de voltar um ano. “Por favor, cuide dele”. Papai colocou suas mãos sobre meus ombros e eu me encolhi sem perceber. “A escola é um lugar perigoso. É necessário que haja regras”. O diretor em encarou diretamente. A pele enrugada em volta de suas bochechas e boca estremecia sempre que ele falava e, dentro de seus lábios escurecidos, estava um vermelho completamente escuro. “Seokijin não pensa o mesmo?” Eu hesitei diante da súbita pergunta e meu pai imediatamente apertou meu ombro com mais força. Seu aperto era tão forte que fez os músculos de meu pescoço latejarem. “Eu acredito que ele se comportará.” O diretor continuou a me olhar nos olhos e o aperto em meus ombros estava ficando cada vez mais forte. Fechei as mãos em punho com a dor excruciante. Meu corpo estava tremendo e suando frio. “Você tem que me dizer. Seokjin precisa ser um bom aluno.” O diretor me olhou com uma expressão desprovida de sorriso. “Eu entendi.” Forcei uma resposta e a dor sumiu de repente. Havia o som das risadas de meu pai e do diretor. Eu não conseguia erguer a cabeça. Olhei para os sapatos marrons do meu pai e para os pretos do diretor. Eu não sabia de onde vinha a luz, mas ela cintilava. Eu estava com medo daquela luz.

JIMIN
30 de Agosto, Ano 19
(Versão L)
Enquanto o Hoseokie-hyung estava no telefone, eu fiquei apenas brincando, chutando o chão coberto pela sombra do hyung. Ele riu e fez uma expressão que dizia "Park Jimin cresceu tanto". Levava duas horas para ir da escola até em casa à pé. Menos de 30 minutos de ônibus, que poderiam ser reduzidos a 20 minutos se ele passasse pela rua principal. Mas o hyung sempre insistiu em tomar o caminho que nos fazia passar um beco íngreme, seguido por uma pequena elevação e uma passarela. Após receber alta do hospital, eu fui transferido para uma outra escola no ano passado. A escola era longe da minha casa e eu não conhecia ninguém. Eu achei que estava tudo bem. Que não era nada demais, afinal, eu já havia mudado de escola inúmeras vezes e não sabia quando seria hospitalizado de novo.
Mas então eu conheci o hyung. Não muito tempo depois que o novo semestre havia começado. Ele casualmente se aproximou de mim e caminhou comigo por duas horas até minha casa. Não demorou tanto até que eu descobri que nossas casas não eram na mesma direção. Eu não consegui perguntar o porquê. Eu desejei que aquela sombra que caminhava ao meu lado, que aquelas duas horas caminhando juntos sob o sol, durassem mais tempo, mesmo que apenas por um dia.
O hyung ainda estava no telefone, eu chutei sua sombra de novo e sai correndo. Ele encerrou a ligação e começou a me seguir. O sorvete derreteu sob o sol e o som de cigarras formigavam em meus ouvidos. De repente, eu fiquei com medo. Quantos dias assim ainda me restavam?

NAMJOON
15 de Maio, Ano 20
(Versões L, O e E)
Caminhei pela sala de aula no depósito, a que tinha se tornado um esconderijo para nós quando não tínhamos nenhum lugar para ir, e arrumei algumas poucas cadeiras. Levantei a mesa que havia caído e espanei a poeira com a palma da mão. O fato de que é a última vez sempre deixa as pessoas sentimentais. Esse é o último dia que venho à escola. Decidimos nos mudar duas semanas atrás. Quem sabe, talvez eu nunca mais volte a esse lugar. Talvez eu nunca mais possa encontrar os hyungs e dongsaengs de novo.
Dobrei o papel na metade, repousei-o sobre a mesa e peguei um lápis, mas não sabia o que dizer, apenas que o tempo estava passando. Enquanto rabiscava algumas palavras inúteis, a ponta do lápis quebrou com um ruído. “Você deve continuar vivendo”. A ponta quebrou e, antes que eu percebesse, estava rabiscando o papel, manchado com o que pareciam ser fragmentos. Em meio ao pó do grafite e as histórias espalhadas pelo papel, histórias de pobreza, pais, dongsaengs, minha mudança.
Amassei o pedaço de papel, guardei em meu bolso e me levantei. Uma nuvem de poeira levantou ao empurrar a mesa. Eu estava prestes a dar a volta e ir embora, mas, em vez disso, caminhei até a janela e deixei três palavras no vidro. Nenhuma despedida seria suficiente, nenhuma palavra precisava ser dita para expressar tudo e todos. Vejo vocês de novo. Muito mais do que uma promessa, era um desejo.

JUNGKOOK
25 de Junho, Ano 20
(Versão O)
Passei as mãos sobre as teclas do piano, sujando-as de poeira. Coloquei força na ponta dos dedos e o som que saiu não se parecia com nada que o hyung costumava tocar antes. Já fazem 10 dias desde a última vez que ele foi à escola. Ouvi dizer que ele foi expulso hoje. Nem Namjoonie-hyung nem Hoseokie-hyung me contaram nada, e eu não podia perguntar a eles, como se eu estivesse com medo de algo. Aquele dia, duas semanas atrás, quando o professor abriu a porta e entrou em nosso esconderijo, apenas o hyung e eu estávamos lá. Era dia de visita dos pais. Eu não queria estar na sala de aula, então cegamente segui-o ao esconderijo. Hyung nem sequer olhou para trás, ele apenas continuou tocando o piano e eu juntei duas mesas, deitando sobre elas e fechando meus olhos, fingindo estar dormindo. Hyung e o piano pareciam diferentes, mas, ao mesmo tempo, eram um, tanto que eu nem conseguia imaginá-los separados. De alguma forma, escutá-lo tocando me fez querer chorar.
Sentindo minhas lágrimas prestes a caírem, eu rolei, mas então a porta foi escancarada e o som do piano, interrompido. Eu apanhei no rosto, cambaleando para trás, e acabei caindo. Encolhi-me para aguentar o abuso, mas então a voz subitamente parou. Olhando para cima, hyung estava empurrando o ombro do professor e se colocando na minha frente. Por sobre seus ombros, estava o rosto chocado do professor.
Eu pressionei as teclas do piano. Tentei imitar a música que o hyung costumava tocar. Ele realmente saiu da escola? Ele nunca mais vai voltar? Hyung disse que alguns socos, alguns chutes eram comuns para ele. Se eu não estivesse ali, ele não teria se colocado contra o professor? Se eu não estivesse ali, o hyung ainda estaria tocando o piano aqui?

YOONGI
25 de Junho, Ano 20
(Versões L, V e E)
Repentinamente, eu abri a porta, fui até a escrivaninha e tirei uma bolsa da última gaveta. Revirei a bolsa e a chacoalhei, e uma tecla de piano caiu com um ruído. Joguei a tecla queimada pela metade no lixo e deitei na cama. Meu coração agitado não se acalmou, minha respiração estava descompassada e meus dedos sujos de fuligem.
Houve uma vez em que eu voltei à casa, agora arruinada pelo incêndio, depois do funeral. Entrei no quarto de minha mãe e vi o piano queimado irreconhecível. Eu caí ao seu lado. Enquanto a luz da tarde entrava pela janela e desaparecia, eu apenas fiquei sentado ali. Algumas teclas estavam se movendo sob os últimos raios de luz. Em me perguntei que som elas fariam quando pressionadas. Eu me perguntei o quanto os dedos de minha mãe as haviam tocado. Arranquei uma delas, coloquei em meu bolso e abandonei o cômodo.
Quatro anos havia se passado. Nossa casa era quieta. Tão quieta que eu estava ficando louco. Depois das 10, meu pai ia para cama e tudo tinha que ser feito com a respiração presa. Essa era a regra dessa casa. Foi difícil para eu suportar aquele silêncio. Não era fácil cumprir os horários e seguir a regra, muito menos a formalidade. Mas, o que eu realmente não conseguia suportar era que, fora tudo isso, eu ainda continuava vivendo nessa casa. Recebendo mesada do meu pai, comendo com meu pai, ouvindo suas repreensões. Mesmo quando eu rebatia, me perdia e causava problemas, eu não tinha coragem de abandoná-lo, abandonar essa casa e seguir sozinho, não tinha coragem de trazer aquela liberdade à realidade em vez de simples palavras.
De repente, eu me sentei na cama. Peguei a tecla da lata de lixo sob a escrivaninha. Abri a janela, permitindo que o ar da noite adentrasse apressadamente. Tudo o que aconteceu hoje inundou minha mente como se viesse carregado pelo vento, atingindo meu rosto. Joguei a tecla no ar o mais forte que pude. Faziam dez dias desde que fui à escola pela última vez. Ouvi dizer que me expulsaram. Quem sabe, talvez agora eu seja expulso dessa casa mesmo que não queira. Eu ouvi cuidadosamente, mas ainda não havia identificado o som da tecla caindo no chão. Não importa quanto tempo passe, aquela tecla nunca poderá fazer som algum de novo. Porque eu nunca tocarei piano novamente.

HOSEOK
15 de Setembro, Ano 20
(Versão L)
A mãe de Jimin caminhou pela sala de emergência. Ela checou o nome na cabeceira e o frasco de soro, depois retirou a folha do ombro de Jimin. Eu senti que deveria contar a ela por que Jimin teve que ser levado às pressas à emergência, contá-la como ele convulsionou na parada de ônibus, então eu me aproximei hesitante. Só então, a mãe de Jimin me viu, ela me olhou por um tempo como se para descobrir alguma coisa. Eu não sabia o que fazer, então esperei. A mãe dele apenas agradeceu e virou as costas.
A segunda vez que a mãe de Jimin virou-se para mim foi quando o médico e as enfermeiras começaram a mover a cama, e eu os segui. Ela agradeceu de novo e empurrou meu ombro. Mais precisamente, ela levemente colocou a mão em meu ombro e retirou. Mas, de repente, uma linha invisível foi desenha entre eu e a mãe de Jimin. Era uma linha clara e sólida. Fria e firme. Era uma linha que eu eventualmente não podia ultrapassar. Eu tinha vivido num orfanato por mais de 10 anos. Dava para notar pelo meu corpo, meus olhos, pelo ar. Pego de surpresa, eu me afastei e caí no chão. A mãe de Jimin me observou com um olhar vazio. Ela era uma mulher pequena e bonita, mas sua sombra era grande e gélida. Aquela sombra projetou-se sobre mim ao cair no chão da sala de emergência. Quando olhei para cima, a cama de Jimin já havia desaparecido da sala, fora de visão. Desde aquele dia, Jimin não foi mais à escola.

JIMIN
28 de Setembro, Ano 20
(Versões L, O, V e E)
Eu parei de contar há quantos dias estava no hospital. É algo que as pessoas fazem quando desejam ou esperam sair. Olhando as roupas das pessoas, as árvores e a grama do outro lado da janela, não parecia fazer tanto tempo. Um mês, no máximo. Às vezes, eu via uniformes escolares também, mas agora nem mesmo aquilo mexe com algum sentimento especial. Tudo apenas parece vago e sem graça, talvez por causa do medicamento. Mas hoje era um dia especial. Um dia que valia a pena ser escrito num diário se eu tivesse um. Mas eu não mantinha nenhum diário e não queria causar problema enquanto escrevia tal coisa. Hoje, eu menti pela primeira vez. Olhei dentro dos olhos do médico e fingi estar depressivo. Eu disse, “Não me lembro de nada”.

HOSEOK
25 de Fevereiro, Ano 21
(Versões O, V e E)
Eu dancei sem tirar meus olhos do reflexo no espelho. O eu ali voava alto sem tocar o chão, livre de todos os olhares e padrões do mundo. Nada importava para mim a não ser movimentar meu corpo ao som da música, colocando todo meu coração em meu corpo.
Eu dancei pela primeira vez quando tinha cerca de doze anos. Talvez por volta da época do show de talentos numa viagem de campo. Eu segui meus amigos e subi no palco. Entre o que aconteceu naquele dia, eu ainda me lembro dos aplausos e gritos. E do sentimento de ser eu mesmo pela primeira vez. Naquela época, eu pensava apenas em mexer meu corpo ao som da música e me divertir. Era êxtase, e não foi muito tempo depois que aprendi que aquele êxtase não vinha dos aplausos, vinha de algum lugar dentro de mim.
O eu fora do espelho é preso a muitas coisas. Eu não consigo levantar meus pés do chão por mais do que alguns segundos, eu sorrio mesmo quando odeio fazê-lo e sorrio quando estou triste também... Eu tomo medicamentos que não preciso e, ainda assim, desmaio em qualquer lugar. Então eu tento não tirar meus olhos de mim mesmo no espelho quando danço. O momento em que eu posso verdadeiramente me tornar eu mesmo. O momento em que posso jogar fora todo o peso e voar. O momento que me faz acreditar que posso ser feliz. Eu mantenho meus olhos naquele momento.

YOONGI
7 de Abril, Ano 22
(Versão O)
Eu parei de andar ao ouvir o som desajeitado do piano. Dentro da construção vazia no meio da noite, havia apenas o crepitar de uma fogueira que alguém havia acendido no interior de um barril. Poderia dizer que era a música que eu costumava tocar, mas não pensei muito. Meus passos de bêbado se enrolaram. Fechei meus olhos e caminhei com a mente cada vez mais vazia. O calor da fogueira ficou mais forte e o som do piano, o ar da noite, até mesmo minha intoxicação, desapareceram.
Com a súbita buzina, abri meus olhos, por pouco escapando de um carro que passava. Em meio ao brilho dos faróis, o vento movimentado pelo carro e o caos de minha intoxicação, eu cambaleei imponentemente. Um motorista estava cuspindo palavrões. Eu parei, prestes a xingar de volta quando percebi, eu não ouvia mais o som do piano. Em meio ao som do fogo escaldante, o som do vento, o ruído deixado pelos carros, era impossível ouvir o som de piano. Parecia ter parado. Por que havia parado? Alguém estava tocando piano?
Como um estalo, centelhas da fogueira dentro do barril surgiram em direção à escuridão. Eu observei vagamente por um tempo. Meu rosto se aqueceu com o calor. Foi quando eu ouvi o som de alguém batendo nas teclas do piano com o punho. Instintivamente, eu me virei. Num segundo, meu sangue estava fluindo aceleradamente, a respiração ficando irregular. Meu pesadelo de infância. Era como o som que eu escutara naquele lugar.
No momento seguinte, eu estava correndo. Meu corpo se movia sozinho, não obedecia minha vontade, correndo em direção à loja de música. De alguma forma, isso parecia ter acontecido repetidamente, incontáveis vezes. Como se eu estivesse esquecendo de algo muito importante.
A loja de música tinha janelas quebradas. Alguém estava sentando em frente ao piano. Fazia anos, mas eu ainda o reconhecia de primeira. Ele estava chorando. Fechei as mãos em punho. Eu não queria me envolver com a vida de outra pessoa. Não queria confortar a solidão de outra pessoa. Não queria me tornar uma pessoa importante para outra pessoa. Eu não tinha a confiança de que poderia proteger aquela pessoa. Não tinha a confiança para estar com ela até o final. Eu não queria machucá-la. Eu não queria me machucar.
Eu lentamente andei alguns passos. Estava prestes a dar as costas e ir embora, mas, sem perceber, aproximei-me e apontei para ele a nota que estava errada. Jungkook levantou sua cabeça e olhou para mim. “Hyung.” Foi a primeira vez que nos encontramos depois que eu larguei a escola.

JUNGKOOK
11 de Abril, Ano 22
(Versão L, V e E)
No final, meu desejo foi realizado. Eu, propositalmente, esbarrei nos delinquentes na rua e fui espancado tanto quanto queria. Continuei sorrindo enquanto apanhava, e, por isso, eles me bateram ainda mais, me chamando de louco. Inclinei-me contra a porta fechada e olhei para o céu. Já era noite. Não havia nada no céu totalmente preto. Um único amontoado de grama localizava-se não muito longe. Estava plano diante do vento. Era exatamente como eu. Forcei-me a rir para impedir as lágrimas de caírem.
Sob meus olhos fechados, eu vi meu padrasto limpando a garganta. Meu meio-irmão estava gargalhando. Os parentes de meu padrasto estavam ou olhando para outro lugar ou conversando sobre assuntos inúteis. Eles agiam como se eu não estivesse lá, como se minha existência não significasse nada. Na frente deles, minha mãe ficava nervosa. Ela se forçou a levantar do chão, fazendo uma nuvem de poeira subir no processo e tossiu. Doeu, como se alguém estivesse cortando até o fundo do meu estômago. Eu subi até o telhado da construção. A cidade à noite se projetava em cores medonhas. Subi ao topo do corrimão, estendendo meus braços e caminhei. Por um momento, minhas pernas vacilaram e eu quase perdi o equilíbrio. Apenas mais um passo e eu morreria, pensei. Mas se eu morresse, estaria tudo acabado. Ninguém ficaria triste se eu desaparecesse.

NAMJOON
11 de Abril, Ano 22
(Versão V)
Eu estava procurando algumas camisetas quando Taehyung se esticou por trás e pegou uma. Era uma camiseta com a mesma frase estampada da que eu estava vestindo. Taehyung riu com vergonha, tirando sua camiseta rasgada. Sob a luz fraca pendurada no trailer, por um segundo, eu vi suas costas machucadas. Hoseok olhou para mim em choque. Taehyung olhou para si mesmo no espelho vestindo minha camiseta. E ele riu.
“Esse cara estava fazendo grafite ou algo assim, foi pego pela polícia enquanto fugia. Tive de tirá-lo dessa encrenca, por isso me atrasei”, dei uma estapeada de brincadeira em Taehyung e, em troca, ele fez uma expressão exagerada de desculpas falsas. Yoongi-hyung, que estava sentado no canto do trailer, aproximou-se e afagou o ombro de Taehyung.

SEOKJIN
11 de Abril, Ano 22
(Versão E)
Eu vim à praia sozinho. Dentro do visor da câmera, o mar era amplamente aberto e azul como nunca. Até mesmo a luz do sol dispersa na água, o vento soprando pela floresta de pinheiros, tudo ainda era o mesmo. A única coisa que havia mudado era que eu estava sozinho. Um pressionar no botão de foto e o cenário na frente dos meus olhos voltou, por um momento, àquele dia há dois anos e dez meses e, rapidamente, desapareceu de novo. Naquele dia, nós estávamos sentados juntos, diferente do dia de hoje. Cansado, de mãos vazias, sem esperanças, mas estávamos juntos.
Virei o carro e pisei no acelerador. Eu dirigi pelo túnel, passando pela parada de descanso. Em algum lugar perto da escola onde nós costumávamos ir, eu abri a janela do carro. Era uma noite de primavera. O ar estava ameno e as cerejeiras estavam flutuando sobre as árvores, estendendo-se pelas paredes da escola. Deixei a escola para trás, atravessei o cruzamento e virei algumas vezes. Não muito longe, eu podia ver as luzes do posto de gasolina onde Namjoon trabalhava.

TAEHYUNG
25 de Maio, Ano 22
(Versão V)
Eu estava andando em meio à floresta de pinheiros quando vi o hyung atendendo uma ligação, ficando para trás. Isso acontecia muito ultimamente. Ele fazia a ligação em algum lugar longe dos outros para que ninguém pudesse ouvir. Desacelerei os passos propositalmente e me escondi em direção ao mar. Hyung não me viu e passou direto. “Ele é apenas um ano mais novo do que eu... Eu não ligo. Não é algo que eu possa assumir responsabilidade de qualquer forma. Por favor, cuide disso você mesmo.”
Senti o frio percorrer minha espinha. Como se o mundo todo tivesse acabado de desmoronar, como se eu estivesse flutuando no meio do mar aberto sozinho. Eu estava com medo, aterrorizado. Eu estava miserável e patético. Eu estava com raiva. Com raiva e não conseguia suportar. Eu queria fazer algo ruim, qualquer coisa. Eu estava sempre com medo.
O sangue de meu pai fluía dentro de mim. Quem sabe, talvez eu tenha herdado seu gene violento. Era como se, de dentro do escudo que eu mantinha apertado, alguma coisa estava perfurando para ser liberado.

HOSEOK
31 de Maio, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Respirar fica difícil, eu evito os olhares por instinto. Minha respiração estava ofegante depois de dançar por um tempo, mas essa não era a causa. Eu estava preso no pensamento de como ele se parecia com minha mãe. Não não era um pensamento, não era um reconhecimento, nem mesmo era algo que eu podia explicar ou descrever. Eu não conseguia olhar direto no rosto do amigo que eu conhecia por mais de dez anos. Nós aprendemos a dançar juntos, falhamos juntos, perdemos as esperanças juntos e nos animamos juntos. Nós deitamos no chão coberto de suor, jogando as toalhas e fazendo piadas. Como se tocado por uma sensação que nunca tive antes, eu saí correndo. Assim que contornei o corredor, apoiei-me contra a parede e permaneci ali. Tentei acalmar minha respiração agitada, mas um som surgiu dizendo, “Aonde você vai, Hoseok-ah?”. A voz, talvez fosse uma voz. A voz chamando “Hoseok-ah”. A voz da qual eu nem consigo me lembrar muito bem agora, que me fazia voltar para quando eu tinha sete anos de idade.

YOONGI
8 de Junho, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Tirei minha camiseta. O eu dentro do espelho não era nem um pouco como eu de verdade. A camiseta com “SONHE” estampado na frente não era o meu tipo. Eu odiei a cor vermelha, a palavra “sonhe”, e até o modo como ela se agarrava apertada ao meu corpo. Irritado, tirei o cigarro e procurei meu isqueiro. O bolso da minha calça estava vazio, então procurei dentro da bolsa e percebi. Ele havia sido levado embora. Havia sido tirado das minhas mãos. Eu fui deixado com o pirulito e essa camiseta.
Mexi meu cabelo e me levantei, mas então ouvi um som sinalizando que havia recebido uma mensagem. No momento em que vi o nome com três palavras na tela do celular, tudo ao meu redor, de repente, explodiu e meu coração parou com um baque. Eu li a mensagem e quebrei o cigarro em dois. No momento seguinte, eu estava sorrindo no espelho. Vestindo a apertada camiseta vermelha com “SONHE” escrito, eu estava sorrindo como um idiota.

TAEHYUNG
25 de Junho, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Desacelerei de propósito e escutei com atenção o som baixo de alguém correndo atrás de mim. Hoje foi a terceira vez que nos esbarramos na loja de conveniência. Se houve alguma diferença, foi que eles correram assim que me viram. Eles rondaram o espaço vazio atrás da loja de conveniência e se esconderam logo depois que eu apareci. Eles acharam que estavam se escondendo bem, mas sua sombra se esticava à frente do espaço vazio. Eu ri. Caminhei fingindo não ver nada e eles começaram a me seguir.
Entrei num beco estreito. Esse era o único lugar nessa vizinhança onde os postes de luz não estavam quebrados. O beco se estendia ao longo com a iluminação pública localizada em algum lugar no meio do caminho. Quando a fonte de luz está à frente, a sombra se projeta para trás. Então agora, minha sombra estaria atrás de mim. Talvez até alcançaria os pés da pessoa que vinha me seguindo com sua respiração irregular. Logo cheguei ao poste de luz e minha sombra imediatamente se escondeu sob meus pés. Eu comecei a acelerar o ritmo dos passos. Deixando a luz para trás, agora minha sombra era projeta à frente. Logo em breve, outra sombra, que não era minha, apareceu na empoeirada estrada de cimento. Assim que eu parei a pessoa fez o mesmo e ficou parada ali também. Duas sombras de alturas diferentes paradas lado a lado.
Eu falei, “Vou esperar até você chegar aqui.” A sombra pulou como se estivesse surpresa, e segurou sua respiração como se não estivesse ali. “Eu posso te ver”. Apontei para a sombra. Logo, o som de passos começou a se aproximar de mim, batendo os pés de propósito. Eu ri.

NAMJOON
30 de Junho, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Com um sentimento estranho, eu olhei para minhas mãos pressionando o botão como se elas tivessem vontade própria. Houve momentos como esse. Momentos que mesmo sendo claramente pela primeira vez, eu sentia que já haviam acontecido repetidamente, incontáveis vezes. Antes que a porta do elevador fechasse, ela foi aberta de novo e pessoas se amontoaram dentro. Encontrei alguém com o cabelo amarrado por um elástico de borracha amarelo. Não apertei o botão porque eu sabia que aquela pessoa estaria aqui, sentia que ela com certeza estaria aqui. Eu lentamente dei passos para trás, indo mais para o fundo. Levantei minha cabeça enquanto pressionava as costas contra a parede fria do elevador, o elástico amarelo entrando no meu campo de visão.
As costas de uma pessoa dizem muitas coisas. Entre elas, compreendo muito pouco. Algumas consigo adivinhar vagamente e outras são deixadas incompreendidas. Fui subitamente pego pelo pensamento de que você só pode dizer que conhece alguém quando consegue ler tudo a partir de suas costas. Se assim for, talvez exista alguém que possa ler quem eu sou pelas minhas costas. Ao erguer o olhar, nossos olhos se encontraram no espelho. Por um segundo, eu evitei o contato. Quando olhei para cima, havia apenas meu rosto no espelho. Minhas costas não eram mais vistas.

JIMIN
3 de Julho, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Eventualmente, deitei no chão. Após desligar a música, tudo ao meu redor ficou quieto, nada a se ouvir além do som da minha respiração e o pulsar do meu coração. Eu peguei meu celular e comecei a assistir o vídeo da coreografia que eu aprendi de dia. Os movimentos do hyung eram leves e precisos. Eu sabia que aquilo era resultado de incontáveis horas de suor e treino, e (ser assim) seria muita ganância para alguém que nada tinha, como eu. Mas entender e desejar são coisas diferentes, então eu suspiro frequentemente. Levantei-me subitamente de novo. Eu conseguia imitar seus movimentos, mas meus passos ainda eram confusos. Eu continuava cometendo erros na parte em que trocamos de posição e ficamos em formação. Nós decidimos que iríamos encaixá-la amanhã, mas até lá, eu queria fazê-la direito, de uma forma ou outra. Mais do que apenas um elogio de brincadeira, como “Muito bem”, eu queria realmente ser reconhecido como um parceiro à altura ao dançar com o hyung.

JUNGKOOK
16 de Julho, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Parei diante da janela, coloquei meus fones de ouvido e, lentamente, cantei junto com a música. Já faz uma semana. Agora eu podia cantar sem olhar a letra. Tirei um fone e treinei com minha voz. Eles disseram que gostaram porque a letra era bonita, mas ela era tão embaraçosa, então apenas cocei minha cabeça. A luz do sol de Julho estava permeando pela grande janela. As folhas verdes flutuavam e brilhavam, provavelmente por causa do vento, e o toque que a luz solar deixava sobre meu rosto era diferente a cada vez. Fechei meus olhos. Olhei para a coloração amarela, vermelha e azul por trás dos meus olhos fechados. Eu não sei se era por causa da letra ou por causa do sol, mas algo estava crescendo em meu coração, formigando e queimando.

SEOKJIN
15 de Agosto, Ano 22
(Versões L, O, V e E)
Foi depois de sair de um cruzamento apertado e começar a acelerar que eu parei de repente, sem perceber. O carro de trás buzinou e desviou, alguém estava disparando palavrões, mas em meio ao barulho da cidade, eu não ouvi nada. Havia uma pequena floricultura na esquina da viela à esquerda. Eu não parei abruptamente por ter visto a loja. Era mais como se eu a tivesse descoberto depois de ter parado meu carro.
Quando o proprietário – que estava organizando papéis ao lado da loja que estava sob construção de interiores – aproximou-se de mim, eu não tive nenhuma expectativa. Já havia visitado inúmeros lugares, mas nem mesmo os floristas tinham a mínima ideia acerca da existência da flor. Eles apenas me mostraram flores com uma cor similar. Mas eu não estava procurando por algo de cor similar. A flor tinha que ser real. Depois que disse o nome da flor ao dono da floricultura, ele me olhou por um instante. Então, ele respondeu que, apesar da loja não ter sido oficialmente inaugurada, poderia fazer a entrega da flor para mim, e perguntou, “Por que tem que ser essa flor?”.
Enquanto girava o volante e voltava à estrada, comecei a pensar. A razão pela qual tinha que ser aquela flor. Havia apenas uma razão. Porque eu quero fazer aquela pessoa feliz. Porque eu quero fazer aquela pessoa rir. Porque eu quero mostrar a ela o eu que ela gosta. Porque eu quero me tornar uma boa pessoa.

Cr. @ktaebwi
Trad. [PT-BR]; Ellen & Yuri @ The Rise of Bangtan
Revisão; Beth & Bia @ The Rise of Bangtan

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